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A crise do plástico flexível: por que ele quase nunca é reciclado?

Ele embala o biscoito, protege o pão, envolve a salada pronta. Está no sachê do molho, na embalagem do arroz, no invólucro do sabonete. O plástico flexível — esse material leve, fino e versátil — é uma presença constante na vida moderna. Mas apesar da abundância, há um fato que ainda surpreende muita gente: ele quase nunca é reciclado.

Segundo o Plastics Policy Inventory, publicado pela Pew Charitable Trusts, apenas 5% dos plásticos flexíveis pós-consumo são efetivamente reciclados no mundo. No Brasil, essa taxa é ainda menor. Mesmo quando descartado corretamente, esse tipo de material enfrenta uma série de obstáculos que o impedem de voltar ao ciclo produtivo.

O que é o plástico flexível?

Chamamos de plástico flexível aqueles filmes plásticos que se dobram, esticam ou enrolam com facilidade — como sacolas, embalagens de alimentos, plásticos bolha, invólucros de papel higiênico, entre outros. Ao contrário de garrafas PET ou potes rígidos, que têm formatos padronizados e composição mais estável, os plásticos flexíveis variam muito em composição e formato, o que dificulta sua triagem e reaproveitamento.

Por que ele não é reciclado?

O problema começa pela separação. Plásticos flexíveis muitas vezes chegam às cooperativas sujos, engordurados ou misturados com outros materiais, como papel alumínio ou camadas de diferentes resinas. Isso torna o processo de reciclagem complexo e pouco viável economicamente.

Além disso, boa parte das recicladoras não possui estrutura para processar esse tipo de material. A demanda por plástico reciclado flexível é baixa, o valor de mercado é reduzido e o retorno financeiro, quase nulo. É mais barato produzir um novo do que tentar recuperar o usado.

Mesmo as soluções tecnológicas mais avançadas, como a reciclagem química, ainda estão em fase de desenvolvimento e são inacessíveis para a maior parte das cidades brasileiras.

O impacto ambiental do invisível

Por ser leve e difícil de conter, o plástico flexível também é um dos principais tipos de resíduo a escapar da coleta. Ele se espalha facilmente pelo vento, obstrui bueiros, polui rios e chega aos oceanos em grande escala. Estima-se que embalagens plásticas flexíveis representem mais de 50% da poluição plástica dos mares, segundo dados da Ellen MacArthur Foundation.

E como esse material raramente é biodegradável, ele permanece no ambiente por décadas, fragmentando-se em microplásticos que entram na cadeia alimentar e ameaçam a saúde humana e animal.

Caminhos possíveis

Enfrentar a crise do plástico flexível exige uma abordagem sistêmica. Reduzir o uso é o primeiro passo — e isso começa pelo design. Marcas que investem em embalagens monomateriais, refiláveis ou reutilizáveis abrem caminho para uma mudança real.

Além disso, sistemas de logística reversa, incentivos fiscais e campanhas de educação ambiental são fundamentais para ampliar a coleta e dar visibilidade ao tema.

Por fim, a rastreabilidade e o controle digital do resíduo ajudam empresas e municípios a entender onde está o problema e como direcionar investimentos.

A embalagem que custa mais do que parece

O plástico flexível cumpre funções práticas e importantes. Mas seu descarte, quando mal planejado, cobra um preço alto do planeta. O desafio está em reconhecer que o que parece “inofensivo” é, na verdade, um dos resíduos mais críticos da atualidade.

O caminho para uma economia mais circular começa na escolha do que produzimos, mas passa também pelo que decidimos tolerar. E neste caso, tolerar o desperdício não pode mais ser uma opção.

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